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"O hábito tem-lhe amortecido as quedas. Mas, sentindo menos dor, perdeu a vantagem da dor como aviso e sintoma. Hoje em dia, vive incomparavelmente mais serena, porém em grande perigo de vida: pode estar a um passo de já ter morrido, e sem o benefício de seu próprio aviso prévio." (Clarice Lispector)

segunda-feira, 26 de abril de 2010

O "sem graça" da vida...

Um dia ela acordou e percebeu que devia jogar tudo por alto... Sim, aquilo não valia a pena. Algumas pitadas de lamúrias, aquela depressão noite e dia, de que lhe servia?
Servia-lhe para amargurar ainda mais o seu tão simplório destino de fardos e sonhos mal traçados e rasbicados...Ela sentia dentro de si o grunhir de mil leões e todos eles loucos pelo amor.
Mas, afinal, o que era o amor?
Era a coisa a toa que fazia-lhe sonhar acordada com suas rebuscada indiferença para o mundo... (continua...)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Tudo que eu sempre sonhei

Sempre pensei que aconteceria,
de criança acreditava nos adultos
que era só pagar pra ver.
Feio, meio assim desconfiado,
perna em xis, já barrigudo,
duvidando que eu conseguisse crescer.
Mesmo assim, contudo,
o tempo foi passando
e eu fui adiando, mudo,
os grandes dias que ia conhecer.
Quem sabe amanhã? Próximo ano?
Cebolinha com seus planos
infalíveis ia me ensinar a ser

forte, corajoso, bom de bola,
um dos bonitos da escola
muito embora eu não fizesse questão.
Ainda bem que eu sou brasileiro,
tão teimoso, esperançoso,
orgulhoso de ser pentacampeão,
já que se eu fosse americano
pegaria uma pistola
e a cabeça ia perder a razão:
mataria quinze na escola,
estouraria a caixola
e apareceria na televisão.

E por fim cresci, de insulto em insulto
eu me vi como um adulto,
culto, pronto pra o que mesmo? Já nem sei.
Olho e não encontro,
penso se não fui um tonto
de acreditar no conto
do vigário que escutei.
Não tem carro me esperando,
não tem mesa reservada,
só uma piada sem graça de português.
Não tem vinho nem champanhe ou taça,
só um dedo de cachaça
e um troco magro todo fim de mês.

Tudo que eu sempre sonhei.
Tanto que eu consegui...
É tão bom estar aqui...
Quanto ainda está por vir...

Mas bobagem, quanta amargura,
eu já sei que a vida é dura,
agora é pura questão de se acostumar.
Basta ter coragem e finura
e o jogo de cintura
aprendido dia a dia, bar em bar.
Pra que reclamar se tem conhaque,
se na tevê tem um craque
e o meu Timão só entra pra ganhar?
Pra que imitar Chico Buarque,
pra que querer ser um mártir
se faz parte do momento se entregar?

E por fim tem até namorada,
bonitinha, educada,
séria, tudo o que mamãe vive a pedir.
Tem beijinho e também trepada
e a consciência pesada
a cada nova vontadinha que surgir
de outra mulher, de liberdade,
de um amor de verdade,
de poder fechar os olhos e sorrir,
pensando que então, dali pra frente,
seja qual for tua idade,
o melhor ainda vai estar por vir!

Tudo o que eu sempre sonhei.
Tanto que eu consegui...
É tão bom estar aqui...
Quanto ainda está por vir...

Tudo que eu sempre sonhei.
Tanto que eu consegui...
É tão bom estar aqui...
Eu sei.